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Cabelo crespo no passado: estilos e tendências de décadas anteriores

por Talitha Benjamin

Você já deve ter notado que, nos últimos anos, muito gente passou a usar o cabelo cacheado ou crespo. São homens e mulheres que nutrem o seu black com orgulho, e claro, com muito carinho na hora de cuidar. No entanto, o cabelo crespo não passou a se popularizar por conta de uma moda ou […]

Cabelo crespo no passado: estilos e tendências de décadas anteriores

Você já deve ter notado que, nos últimos anos, muito gente passou a usar o cabelo cacheado ou crespo. São homens e mulheres que nutrem o seu black com orgulho, e claro, com muito carinho na hora de cuidar. No entanto, o cabelo crespo não passou a se popularizar por conta de uma moda ou […]

Você já deve ter notado que, nos últimos anos, muito gente passou a usar o cabelo cacheado ou crespo. São homens e mulheres que nutrem o seu black com orgulho, e claro, com muito carinho na hora de cuidar. No entanto, o cabelo crespo não passou a se popularizar por conta de uma moda ou tendência. Assumir o crespo faz parte de um movimento cultural, social e político que ocorre no mundo inteiro, e também aqui no Brasil. 

Entender a história dos cabelos crespos nos ajuda também a entender um movimento estético muito importante da história brasileira. Para mostrar o quanto o cabelo crespo resistiu e evoluiu até chegar em sua era de ouro — a atual —, fizemos uma pequena linha do tempo para mostrar como as pessoas de cabelo crespo lidavam com os fios. Vem conhecer a história dessa curvatura:

Origens do cabelo crespo: identidade, status e comunicação

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Para falar da história do cabelo crespo, é preciso voltar alguns milhões de anos, para o começo da civilização: esse tipo de curvatura desenvolveu-se graças à evolução, como uma forma de proteção ao couro cabeludo de pessoas que viviam em uma região sem sombras: a África. 

No entanto, para a sociedade africana antes da colonização, cabelo não era apenas cabelo: o crespo também era utilizado como forma de reconhecimento. Através da estética dos fios, era possível saber a idade, estado civil, religião, identidade étnica, status social e econômico, e por aí vai. 

Técnicas complexas e únicas de estilização eram utilizadas como formas de comunicação: era possível reconhecer até mesmo o sobrenome, já que cada clã, tribo e família possuía formas únicas de usar o cabelo. 

Nesse período, o cabelo também tinha uma grande importância estética: era através dele que as mulheres africanas expressavam sua personalidade e até mesmo suas habilidades. Não cuidar do cabelo, significava uma possível depressão ou incapacidade de cuidar de si mesma, e da sua família. 

Até hoje, podemos observar a relevância do cabelo para culturas africanas. É nesse período histórico que surgem as box braids, twists, dreads e bantu knots, entre outros penteados e estilos que até hoje são utilizados por pessoas negras ao redor do mundo. 

Cabelo crespo durante a escravidão: vivendo na sombra do racismo 

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É também impossível não falar da escravidão quando analisamos a história do cabelo crespo, que, até então, era uma característica única de africanos. No Brasil, durante e depois do fim da Escravidão, houve uma grande miscigenação, que significa a mistura de culturas e etnias. Por conta disso, o traço genético que dava origem ao fio crespo passou a se espalhar, no entanto, ainda era mal visto, por ser algo que remetia aos escravizados. 

Por essa razão, mulheres negras e pardas de cabelos crespos e cacheados, por conta do racismo, optavam por cobrir os fios com tecidos, o que deu início ao uso de turbantes e lenços. Também, se submetiam a métodos perigosos de alisamento ou diminuição do volume, para se assemelharem aos brancos de cabelo liso.

Cabelo crespo após a escravidão: estigma e a era dos alisamentos

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Mesmo após a liberação de pessoas escravizadas, a população negra continuou a sofrer com os efeitos do estigma causado por centenas de anos de prisão e condições desumanas de existência. Uma delas era a opressão cultural, que insistia em associar os traços físicos de pessoas negras a estereótipos negativos, ao mesmo tempo em que essa característica ia se espalhando, graças à, novamente, a miscigenação.

Ainda no século XX, alisamentos químicos foram desenvolvidos para mudar a estrutura do fio, e eram muito populares entre pessoas negras. No entanto, eram altamente danosos e ofereciam riscos não só para a saúde do cabelo, mas também para a pele e o couro cabeludo.

Em paralelo, a aceitação do cabelo crespo sempre foi pauta de ativistas negros, que denunciavam os efeitos do racismo na população. Aceitar os fios crespos, o nariz largo e a pele escura era parte essencial da libertação e da construção da autoestima de pessoas racializadas. Membros do movimento dos direitos civis americano e também da organização Pantera Negra eram frequentemente vistos usando o seu cabelo crespo natural, com máximo volume.

Cabelo crespo e aceitação: como estamos agora?

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Mesmo que tenha sido motivo de preconceito e racismo desde sempre, o cabelo crespo não deixou de existir, e nem mesmo as pessoas deixaram de adotá-lo não só como forma de protesto, mas também com orgulho e apreço. Começando na década de 1960, quando ganhou o apelido de “black power” e “afro”, o cabelo crespo virou febre, e era um dos penteados mais populares durante a década de 1970. 

Já nos anos 1980, quando a moda era fios mais volumosos, o cabelo crespo manteve-se firme e, na década seguinte, ganhou diversos outros adeptos, que recorriam ao “permanente”, outro método químico em que objetivo era deixar os cabelos com aspecto similar ao cacheado e crespo. 

Mesmo com toda a fama, é importante ressaltar que, em pessoas negras, o cabelo crespo sempre foi mal-visto. Ter fios crespo e ser negro era sinônimo de ser desleixado, indigno de confiança e até mesmo criminoso. Mesmo que pessoas brancas estivessem adotando o visual. 

Diferente de outros países, a miscigenação no Brasil fez com que o cabelo crespo não fosse exclusividade só de pessoas negras. Mesmo assim, não significa que o racismo não exista, ou que ter cabelo crespo não fosse considerado algo ruim. Uma pesquisa realizada pelo Euromonitor aponta que sete entre dez mulheres sonham em ter o cabelo liso. Já números da Nilsen destacam que 40% das entrevistadas que possuem fios cacheados ou crespos já realizaram o procedimento, colocando o país na liderança em realizações de alisamentos. 

É impossível dizer que todas essas pessoas alisaram o cabelo por conta do racismo. No entanto, podemos ter certeza que ter cabelo crespo sempre foi sinônimo de piadas e de preconceito, afinal, até hoje, qual crespa nunca ouviu falar que seu cabelo era “ruim”, ou cresceu sem ver mulheres de madeixas crespas na televisão, no cinema, nas revistas ou nas propagandas? 

Felizmente, os tempos estão mudando: números do Google apontam que as buscas sobre o termo transição capilar (o processo de abandonar os alisamentos e assumir o cabelo natural) ganhou relevância em 2013 e, desde então, cresceu 2.300%. Já as buscas pelo termo “cabelo crespo” cresceram em 850% desde 2006. Isso nos mostra que estamos caminhando para um mundo cada mais inclusivo com todas as formas de beleza, incluindo toda a beleza dos fios crespos.

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