Imagine ter ganhado um presente incrível, mas que durante muito tempo você achou que não valia nada e o escondia no fundo da gaveta. Essa pode ser a metáfora que melhor identifica a relação de muitas mulheres com seus cabelos naturais que, por anos, tiveram suas estruturas modificadas para se encaixar em um padrão.
O que para muita gente é apenas uma decisão estética, a transição capilar é bem mais que isso: envolve um processo desafiador de autoconhecimento e libertação de antigos estigmas para um novo olhar para a diversidade e para si. Um cabelo em transição é o começo de uma nova história que terá como enredo a grande decisão de assumir o cabelo crespo e cacheado e aquilo que se é de verdade.
Para entender como o processo de transição capilar é transformador e transcende o cabelo em si, conheça a história de mulheres que resolveram assumir os cachos e crespos e os sentimentos que a decisão trouxe à elas.
Assumir os cachos
A Técnica em Segurança do Trabalho Jaqueline Araújo, de 26 anos, passou seis anos alisando o cabelo e ao decidir assumir os cachos viu que gostar dos fios naturais poderia levar um tempo:
“Depois de seis anos usando relaxamento e progressiva, na primeira vez que saí em público, ainda em 2014, me senti feia e insegura, com a sensação de estar desarrumada, porém, livre. Apesar de ter lutado tanto tempo contra meu cabelo natural, nunca me senti eu mesma de cabelo liso”.
“Depois de quase dois anos de transição, cortei os cabelos que ainda tinham alisamentos e passei a gostar de cada textura diferente que eu notava ao longo dos meses e ter prazer em procurar produtos diferentes pra cuidar dos meus cachinhos.”
Assumir o cabelo crespo
Já a professora de inglês e escritora amadora do Inquietudes da Mente Kamila Souza, de 30 anos, começou as mudanças dos fios tão jovem que sua memória de como eles eram naturalmente havia se apagado:
“Por pressão de padrões estéticos impostos pela sociedade, desde muito cedo, eu sempre entendi que o meu cabelo crespo não era o chamado ‘cabelo bom’, ele não era aceitável e nem mesmo bonito. Com isso, durante praticamente toda a minha infância, sempre houve a tentativa de encaixar nesses padrões através da utilização de incontáveis procedimentos químicos que agrediam meu cabelo natural. Posso até dizer que, durante muito tempo, eu nem sabia como o meu cabelo era naturalmente.”
“Após o meu processo de transição capilar, que pessoalmente também representa um processo de autoconhecimento, reconhecimento e empoderamento enquanto mulher negra e crespa, eu posso realmente afirmar com muito orgulho que esse é o meu black. Esse é o meu crespo. A sensação de assumi-lo pela primeira vez foi, e ainda constantemente é, de liberdade, aceitação, empoderamento e entender que existe beleza no meu crespo do jeitinho que ele é. Ser livre para ser quem você é sem a pressão ou imposição de nenhum padrão. Além daquele que você faz para si mesma!”
Não é fácil se livrar de inseguranças e de um lugar de aceitação para assumir o natural – mas esse é um processo possível. Se você está cogitando ou iniciando esse processo, siga essas dicas para transição capilar: busque uma rede de apoio e aceite seu tempo.
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