Sabemos que o visual que usamos hoje é uma mistura de diversas referências estrangeiras, já que o Brasil é um país profundamente miscigenado. Com o cabelo, não podia ser diferente: as box braids e outros tipos de penteados afros são parte intrínseca da identidade visual de pessoas negras brasileiras.
De diversas formas, cores e técnicas, elas são amplamente utilizadas por quem possui cabelos cacheados e crespos, não só por serem lindas, mas também como uma forma de empoderamento e reafirmação da identidade negra.
Mas o que você conhece sobre as box braids, e outros penteados afros que vemos por aí? Que tal saber mais sobre esse estilo capilar — que vai muito mais além do que só um penteado diferente? Separamos 5 curiosidades para você!
As box braids são mais antigas do que se imagina
É surreal pensar que um estilo de cabelo seja tão antigo assim, mas as box braids são utilizadas há muito tempo. Evidências históricas apontam seu uso rotineiro em civilizações antigas da África, incluindo no Antigo Egito.
As box braids e outros penteados afros que conhecemos hoje, no entanto, surgiram apenas na década de 1990 nos Estados Unidos, popularizada pela comunidade negra, em especial, por celebridades do mundo da música.
Atualmente, essas tranças são utilizadas amplamente por pessoas negras ao redor do mundo, de todas as idades e gêneros, e de diferentes nacionalidades e vivências culturais e raciais, provando a atemporalidade e versatilidade desse visual.
Para muita gente, as box braids são muito mais do que um simples penteado
O apagamento das tradições e identidades africanas foi um dos principais sintomas da Escravidão e do racismo estrutural – caracteristica que se construiu por conta desse episódio sombrio da nossa história. Por isso, as box braids e outros penteados tradicionais do povo preto carregam um poderoso significado cultural, social e político.
Há séculos as tranças são utilizadas por muitas pessoas como um símbolo de resgate de sua cultura e identidade africana. Para elas, é uma forma de se conectar com sua herança e legado ancestral e, ao mesmo tempo, expressar o seu orgulho pela raça.
Consequentemente, as box braids também carregam uma significância política muito importante. Por serem esteticamente associadas à população negra, penteados tradicionais afros ainda são, em muitos lugares e ambientes, alvos de discriminação racial. Por isso, utilizá-las é uma forma de se posicionar contra o racismo.
Há também, claro, quem use as box braids apenas por motivos estéticos, e por seus benefícios capilares, que incluem a proteção dos fios, versatilidade e um estilo único e cheio de atitude. É importante entender, no entanto, que as box braids são uma importante característica e símbolo da população negra.
Foi apenas a partir dos anos 1990 que elas se tornaram um penteado popular
Apesar de existirem há séculos, com registros de até mesmo há milhares de anos, a popularização das box braids e de outras técnicas de penteados vindas da África aconteceu apenas nos anos 90. Na época, um movimento político e cultural crescente incentivava as mulheres negras a rejeitar o padrão de beleza eurocêntrico, que ditava o cabelo liso, e as encorajava a aceitar suas texturas naturais.
As box braids permitiam que elas protegessem seus fios naturais de danos externos, em uma época em que os tratamentos para fios cacheados e crespos eram praticamente inexistentes. Além disso, ainda permitiam que celebrassem um visual que era totalmente negro.
Assim, o visual foi adotado por importantes celebridades negras, em especial, no mundo da música, na cultura do hip-hop e R&B, catapultando assim o visual para a sua popularidade na comunidade negra norte-americana e tornando os penteados afros mais acessíveis e “aceitáveis” na maioria dos círculos sociais e profissionais.
Naquela época, os penteados africanos, incluindo as box braids, eram vistos como uma forma de expressar uma rebeldia e desacordo com os padrões da época, fazendo com que elas também fossem um visual bem popular entre os adeptos dos movimentos políticos do final do século 20.
Trabalhar com box braids e tranças afros não é tão simples quanto parece
A técnica utilizada para fazer as box braids não é simples. Por mais que a trança em si seja algo relativamente fácil de aprender, executar tranças bonitas e bem-feitas, com acabamento impecável e sem danificar os fios, sabendo trabalhar com diferentes texturas e comprimentos, requer muito treino e estudo por parte das trancistas.
Não apenas isso, mas também é preciso ter pelo menos um conhecimento iniciante no mundo da beleza capilar para saber identificar problemas nos cabelos a serem trançados, e determinar se é aconselhável ou não seguir com o procedimento.
O processo de trançar em si é demorado, podendo chegar até 14 horas dependendo do comprimento e estilo de box braids. No entanto, as box braids oferecem diversos benefícios, como proteger os fios de danos externos, oferecer praticidade e versatilidade na forma como você usa o cabelo diariamente, estimular o crescimento e ajudar você a passar pela transição capilar.
As box braids são importantíssimas para a economia das mulheres negras
Além de uma importante característica da estética africana, as box braids também são importantes para a economia, sobretudo para pessoas periféricas e não-brancas. Por ser um estilo capilar adotado por pessoas negras, a demanda por box braids e outros penteados africanos cria oportunidades para pessoas pretas, sobretudo para as mulheres.
Cada vez mais trancistas estudam e se profissionalizam neste tipo de serviço para atender suas comunidades, principalmente aqui no Brasil, onde a maioria a população é formada por pardos e negros, e onde a imigração africana é crescente.
Essa demanda também alimenta o mercado de cosméticos, que de uns tempos para cá vem notando o aumento significativo dessa tendência de beleza. Assim, apostam cada vez mais nas pessoas trançadas (principalmente nas mulheres negras) como público-alvo de produtos e serviços especializados para cuidar desse tipo de cabelo.
Por isso, é importantíssimo entender que as box braids, twists, dreads, e afins, vão muito mais além de um penteado diferente do cabelo natural. É um aspecto milenar da ancestralidade e cultura negra, que mesmo com os esforços do racismo estrutural em apagá-lo e demonizá-lo, sobreviveu graças à resiliência das pessoas negras.
