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Meus dreads e eu: uma história de amor

por Ana Paula Xongani

Há um tempo, o pessoal que me acompanha nas redes sociais, os “Xongs” ♡, perguntaram qual era a parte preferida do meu corpo. Aí, fiquei pensando sobre isso e me lembrei que, quando eu era mais nova, sempre respondi que a parte preferida do meu corpo eram os dentes. Aí, me lembrei também que eu […]

Meus dreads e eu: uma história de amor

Há um tempo, o pessoal que me acompanha nas redes sociais, os “Xongs” ♡, perguntaram qual era a parte preferida do meu corpo. Aí, fiquei pensando sobre isso e me lembrei que, quando eu era mais nova, sempre respondi que a parte preferida do meu corpo eram os dentes. Aí, me lembrei também que eu […]

Ana Paula dreads 630x465 - Meus dreads e eu: uma história de amor

Há um tempo, o pessoal que me acompanha nas redes sociais, os “Xongs” ♡, perguntaram qual era a parte preferida do meu corpo. Aí, fiquei pensando sobre isso e me lembrei que, quando eu era mais nova, sempre respondi que a parte preferida do meu corpo eram os dentes.

Aí, me lembrei também que eu fazia balé. E na escola de balé, eu e as outras meninas que faziam aula comigo tínhamos uma “brincadeira”, que era fazer a mulher perfeita. A gente “montava” essa figura a partir do que a gente escolhia de mais bonito na parte do corpo de cada uma.

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É claro que nunca eram escolhidos os meus cabelos crespos, meus olhos pretos, minha boca grande, nem a minha pele preta. Às vezes, eram escolhidos os pés, as mãos ou os dentes. E sim, meus dentes são de fato muito bonitos, eu nunca usei aparelho e sempre os tive organizadinhos. Mas era uma cilada isso, uma fuga, né? Sabe por quê?

Porque meus dentes eram a única coisa que me “aproximava” das outras meninas que eram diferentes de mim. Das meninas brancas.

Mas, e hoje? Quando me perguntam qual a parte preferida do meu corpo, a resposta é muito fácil. Meu cabelo endredado. A parte preferida do meu corpo são meus dreads!

E pra quem acha que é uma resposta fácil, boba ou fútil… se liga na história do meu cabelo que eu vou te convencer do contrário!

Eu, como muitas meninas negras, nasci com cabelo mais fino, mais liso e com a pele mais clara que tenho hoje. E, na minha família, a gente ficava torcendo pra quando o cabelo fosse encrespar e a pele fosse escurecer.

Meu cabelo sempre foi uma expressão de muito carinho, muito amor da minha mãe por mim. Teve uma época que o preferido dela era com trancinhas e bolinhas verdes e mel nas pontas, ao longo das tranças. Eu queria cabelo comprido e ela sempre cuidava disso de uma forma ancestral, trançando.

Antes de ter dreads, eu já usava uns dreadzinhos falsos, digamos assim, rs – era o twist, a trança de dois, conhecida com vários nomes diferentes. E assim eu fiquei por muuuuitos anos.

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Essa trajetória capilar, esse cuidado, esse fortalecimento, a partir da minha família, da minha estética, foi o que me fortaleceu pra que eu sempre usasse o cabelo natural, mesmo nos momentos mais difíceis, nos momentos de mais racismo, nos momentos de preterimento. Eu não tenho dúvida que meu cabelo é minha maior expressão de resistência. E não só uma resistência atual, contemporânea, mas uma resistência de toda a minha trajetória.

Tá! Aí, vocês me perguntam: e os dreads? Quando chegaram? Foi quando estive em Moçambique, na África, que descobri a beleza dos cabelos endredados. E, com os dreads, eu consegui esteticamente continuar a minha história. Meu cabelo não é trança. Não é colocado. Não é alongado. Meu cabelo é dread. Sim, dreads naturais.

Ué? Mas, feito de que? De cabelo mesmo. Do meu cabelo natural, da raiz às pontas, e muito amor.

Meus dreads começaram curtos, como todos os cabelos, e foi crescendo comigo. Por isso, gosto de dizer que as pontas são mais velhas, conhecem vários segredos, estão aqui comigo há muito mais tempo. Já a raiz é mais novinha, mais forte. E é ela que sustenta toda a história, todos os meus dreads. Há mais ou menos 8 anos, meus dreads viraram meus grandes companheiros.

Foram crescendo comigo, pouco a pouco. Na mesma medida que crescia em mim minha auto-estima. Aprendi a cuidar dos dreads, pentear os dreads, trançar os dreads, enfeitar os dreads, fazer diversos penteados. E, nesse processo, aprendi a amar os meus dreads! Tive carinho, paciência e cuidado para que hoje ele fosse comprido. Mas eu gostei dele em todas as fases. Posso pintar, trançar, cortar, cortar chanel de bico, posso fazer qualquer coisa, o que eu quiser.

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É muito triste as pessoas associarem este cabelo a um cabelo sujo, mal cuidado, um cabelo que eu tanto cuido. E por isso é tão especial e importante, pra mim, ser uma embaixadora de dreads. É muito importante ver uma marca mostrando que seus produtos são adequados, sim, para cabelos como o meu.

Meu cabelo é minha expressão de amor, de auto-cuidado, de resistência. Meus dreads contam a história da minha família, dos cuidados da minha mãe.

Essa é a história do meu cabelo e eu gosto de contar porque fala muito de mim, do que eu sou, do que eu quero ser, das coisas que eu quero colaborar para mudar nesse mundo, do que eu represento. Contam o que eu quero pra minha filha.

É muita coisa.

Então, é muito importante terem respeito com meus cabelos, que são a parte preferida do meu corpo. 🙂

E vocês?

Qual a parte preferida do corpo de vocês?

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